quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Um poucochinho sobre livros, leituras e a ação de compartilhá-los [Parte I]

Que livros mudam nossa vida parece algo tão óbvio ou comentado que soa um pouco repetitivo e chato falar a respeito. Contudo, estive pensando sobre isso e, considerando também o momento em que estou – há quase um mês sem concluir leitura de ficção alguma – resolvi compartilhar a minha visão disso. Posso me equivocar, claro, e peço que gentilmente conversem sobre isso comigo, se for o caso. Não é aqui também um espaço de conversa? Também por isso pensei que, já que não tenho livros lidos recentemente para comentar – incrivelmente ainda não fiz a resenha de Crime e Castigo, e talvez nem a faça –, comentarei sobre eles. E se me perguntarem “por que resolveu falar disso agora?”, a resposta é simples: num momento meio triste, eis que uma moça-de-cabelos-curtos vem me devolver um livro que eu havia emprestado a ela. A tal obra é o incrível Caçando Carneiros, um dos que usei de base para o título do blog. Ela talvez não tenha notado, mas ter conversado comigo sobre essa obra sensacional e coisas afins me deu um ânimo fofo. Esse mesmo ânimo, horas após, é o que me faz querer demonstrar que ler é mais do que um ato solitário; é uma ação que pode ser compartilhada, discutida e alegremente mudar vidas.
Antes disso, queria comentar que talvez seja um preconceito comum de que pessoal de Letras lê muito. Pode até ser verdade quanto a ler bastantes teóricos, apenas. A leitura de livros ficcionais e de Literatura mesmo costuma ser meio renegada ou até feita apenas quando é obrigação do curso – felizmente, encontrei pessoas muito queridas, a Julya e a Helena do Leituras & Gatices, e a Tainan do Eu Curto Literatura, por exemplo, que leem bastante. Elas sabem o quanto ler é bom e é por isso também que têm seus blogs e compartilham esse mundo maravilhoso. É também por isso que eu, recentemente, criei este blog. Mas... O que isso tem a ver? Bem, pensem comigo: se em Letras, no curso em que mais se espera encontrar bons leitores, não é tão fácil encontrá-los, me pergunto quanto aos outros ambientes. Não digo que não tenham, não me interpretem mal. É só um ponto curioso; afinal, meu conhecimento de clássicos veio em sua grande maioria do meu contato com esses autores no curso ou em conversas – onde esses nomes de peso não são ditos no ambiente pesado da escola, em que qualquer autor antigo é visto como “leitura obrigatória para vestibulares” ou coisa do tipo –, onde a leitura é feita, boa parte das vezes, por interesse, por gosto, por prazer. 
Há tanto ramo se espalhando que poderia usar e discorrer para diferentes partes dessa conversa, mas tentarei focar no que me trouxe a compartilhar isso: a felicidade de uma conversa sobre livros. Fica claro que ler livros é sim uma ação solitária, no aspecto físico disso. É apenas você e o livro. Muitas pessoas param por aí, porque não tem com quem conversar sobre o que leu, seja por falta de conhecidos que leem ou que tenham o mesmo gosto literário. E isso em nenhum momento diminui a grandiosidade que é ler. Apenas talvez deixem de ter um adicional; que é poder trocar ideias sobre o que leu. E poder se animar com os livros quando não estás lendo coisa alguma, por qualquer motivo que seja, como eu estou agora. Porque um livro lido pode ser comentado muito tempo depois – claro que escrever uma resenha é diferente. Apesar dos detalhes fugirem da memória, fica uma impressão maior que a obra deixou. Como ficou para mim a melancolia e o drama do Murakami. Como ficou a leveza e o drama de A elegância do ouriço. Não sei se isso fica claro, mas espero que tenham me entendido sobre essa “impressão”. Essa sensação de algo, uma leitura ou mesmo um acontecimento na vida, que aconteceu há algum tempo, mas que ao lembrar nos traz alguma sensação diferente. Seja ela de algo bom ou de algo ruim.
Disseram uma vez, numa das aulas do curso de Letras que faço, não lembro em que disciplina, ou mesmo quem disse, mas que a pessoa sinta-se aqui citada, que a Literatura serve para nos colocar no lugar do outro. É nos colocando nesse outro espaço, nessa outra vivência, com o drama e vida alheios, que aprendemos mais sobre o mundo e sobre nós mesmos. A comparação, a análise, mesmo que inconsciente, é o que vai, aos poucos, nos mudando; mostrando-nos que há toda uma outra perspectiva. É lendo sobre um mundo pós-apocalíptico, ou de uma época muito antiga, que percebemos o quanto a tecnologia nos proporciona conforto, comodidade e acesso a informações tão diversas. Tudo isso pode ser notado sozinho, talvez, mas, a meu ver, é com a visão do outro, seja a leitura ou com a conversa, ou mesmo com a leitura de textos alheios na internet, que nos tornamos pessoas melhores. Que aprendemos tanto a melhorar a nós mesmos quanto a ajudar aos outros – aqui digo, principalmente, a ser uma pessoa mais educada, menos irritadiça etc. –; aprendemos, também, que o mundo pode ser bem ruinzinho. Principalmente, eu diria, que há os dois lados da história – quem sabe até um terceiro lado.

Enfim, geralmente, é com essas conversas – ou mesmo aquela conversa individual em que se pode pensar sobre o livro – que percebo se a obra é boa ou não, se a leitura é significativa. Se ela me muda, mesmo que um pouco. Ou se não muda, se ela consegue mexer comigo. Se me tira do local inicial de onde estava. Por exemplo, lendo História dos Treze, do Balzac, eu parei e pensei o quanto a contextualização é algo impressionante e que, às vezes, é deixado de lado. Depois dessa leitura, eu presto mais atenção a isso. Depois de ler Crime e Castigo, eu passei a ver que há outra visão dos criminosos e perceber, aquele meio óbvio que só notamos depois que lemos, que no crime há a importante parte do “peso na consciência”. Com as leituras de Murakami eu percebi que finais inconclusos e histórias simples são melhores do que aparentam, desde que o escritor saiba lidar com isso. Entre outras coisas se eu for parar para pensar. Com isso, queria deixar um questionamento, e sintam-se livres a comentar caso queiram: já leram alguma obra que mostrou a vocês uma visão diferente, que os tirou do seu espacinho aconchegante?

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